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sábado, 14 de abril de 2012

Exterogestação. O bebê, emocional e fisiológicamente feito para ser carregado

O ser humano é o único animal (fora os marsupiais) que nasce imaturo. Este não é um erro da natureza, evidentemente, senão que tem uma explicação causal, e outra “consequencial”:

A causa é a bipedestação (que provocou um estreitamento da cavidade pélvica para nos mantermos em pé) e o aumento da capacidade cerebral (e por tanto, aumento do tamanho da cabeça). Ambas coisas, juntas, fazem com que se esperássemos o bebê estar no mesmo ponto de desenvolvimento cerebral que os outros primatas, ele já teria a cabeça tão grande que nem de longe iria caber pela pelve da mãe. Por tanto, o bebê não nasceria, ele morreria, e a espécie humana também, pois isso aconteceria com todos. Os primatas nascem com o 50% do cérebro adulto, os humanos com o 25% dele, e só vão alcançar o 50% quando eles tiverem 9 meses de idade (fora do útero).

A consequência é que, graças ao fato do ser humano nascer com grande parte do cérebro ainda por se desenvolver, ele vai ir criando conexões neuronais em interação com o entorno, que lhe oferece inúmeros estímulos a mais do que um fechado útero materno. "As vantagens de nascer cedo no ciclo da gestação incluem uma maior plasticidade e uma exposição precoce aos estímulos ambientais, importantes para a aprendizagem" (Trevathan). Estar em "desenvolvimento incompleto", na realidade, facilita mais a criatividade e a personalidade individual (Pearce).

Lá fora, o bebê vai se adaptar ao meio no qual vai viver com uma plasticidade cerebral muito maior do que a de qualquer outro animal. Ele não é um ser passivo que se vira na vida só através de atos reflexos, como é o caso de outras espécies. O patinho sai do ovo e simplesmente começa perseguir o primeiro objeto em movimento que tenha por perto, geralmente a mãe pata, é claro. Senão que o ser humano vai tratar de dominar o entorno, e para isso primeiro tem que compreendê-lo. Se ele não nasce “pronto”, se o seu cérebro se desenvolve já em interação com este entorno, ele terá muita mais informação sensorial para este cometido. Mas para isso, a interação tem que fazer com que ele se sinta seguro. E aí entra o contato físico com o corpo da mãe (ou de outro adulto-cuidador).


O CONCEITO DE EXTEROGESTAÇÃO

Os primeiros nove meses do bebê são considerados pela maioria de autores como um tempo de exterogestação. É o tempo no qual ele vai desenvolver o seu cérebro até o 50% (e vai chegar ao 80% quando ele completar 2 anos!). Nove meses é o tempo, também, que ele precisa (em media) para começar engatinhar, o que quer dizer que, na natureza, ele já poderia fugir de um perigo por médios próprios. É um tempo de maduração dos sistemas dele.

O Dr. Heller afirma que "enquanto o bebê está em contato com a mãe, os seus sistemas se mantêm em um ritmo regular".Os bebês prematuros sobrevivem mais e se estabilizam antes se permanecem em contato com o corpo da mãe (Método Mãe Canguru), e os que não são prematuros, porém não tendo que “lutar pela sobrevivência”, também sentem os mesmos efeitos quando estão em contato com outro corpo humano. Por tanto, nestes primeiros nove meses, o contato físico com o bebê (dia e noite) não só é gostoso, beneficioso e recomendável, senão que é também necessário. Sem limite de tempo, quanto mais, melhor.

UM CORPO E UMA MENTE FEITOS PARA O BEBÊ SER CARREGADO

Não, o berço não tem espinhos... O bebê chora quando você o deixa aí simplesmente porque ele está “programado” para fazer isso. O bebê das cavernas que não chorava quando era deixado em um lugar longe do corpo do adulto, corria risco de ser devorado por um predador, morrer de frio ou qualquer outro perigo que, evidentemente, hoje não existe para nossas crianças. Mas os bebês que sobreviveram, os que fizeram chegar os genes deles até nós, foram os que choravam e conseguiam que a mãe carregasse eles o tempo todo.

Por tanto, os bebês humanos estão ainda hoje, na era Pós-moderna, geneticamente preparados para chorar quando não estão em contato com um adulto. Eles não sabem que não tem predadores por aqui... Eles simplesmente têm esse mecanismo de sobrevivência que funcionou à perfeição durante milhares de anos, porque nascem completamente dependentes, e para sobreviver precisam se sentir permanentemente cuidados. O seu recurso é o choro. O bebê não tem como saber que, mesmo estando no quarto do lado, eles estão cuidados porque a mãe o escuta por um intercomunicador com câmera. Ele simplesmente sente-se abandonado e exposto aos perigos, sem médios próprios para se proteger.



Fisiologicamente também já nasce perfeitamente adequado para ser carregado. O corpo de um bebê tem a forma e posicionamento ideal para ser levado nos braços de um adulto, olhando para o corpo do adulto. As perninhas dele se retraem em posição de “sapinho” para abraçar com elas o corpo do adulto e se encaixar nele. De uma mulher ainda mais, graças à forma do quadril dela, que serve de assento. Parece que até estivesse todo pensado e planejado pela natureza!!

QUESTÃO DE FISIOLOGIA

O ser humano não tem a coluna reta como um pau, senão que ela apresenta duas curvas que fazem com que tenha uma forma de “S” fácil de identificar. O bebê, por contra, nasce com a coluna curvada em forma de “C”, e vai demorar ainda alguns anos em conseguir a coluna própria de um adulto, graças à ação da gravidade e da sua própria musculatura. Entre os 3-6 meses, quando o bebê começa segurar a cabeça, vai ir se formando a primeira curva, a cervical, à altura do pescoço. Depois, com o engatinhamento e quando aprende caminhar, a curva lombar começa aparecer, aperfeiçoando a forma nos 3 primeiros anos da sua vida.

Se o bebê permanece, como tristemente é o caso de muitos, quase todo o dia deitado horizontalmente em berços, moisês ou carrinhos, estaremos estressando a sua coluna, que não tem uma forma “esticada”, reta, senão curvada, como já expliquei. Em um bebê conforto será mais respeitada a sua ergonomia, mais os cintos de segurança e o posicionamento “não vertical” impedem que o bebê exercite os seus músculos dorsais e do pescoço. Por tanto, é também importante neste sentido carrega-los no colo o maior tempo possível, e fazê-lo verticalmente.

Verticalmente como? É claro que respeitando a anatomia dele, segurando a sua cabecinha se ele ainda não o faz por si mesmo, mantendo as suas costas curvadas em forma de “C" e as pernas na posição de "sapinho", como se estivesse acocorado: os joelhos mais altos que o bumbum e as canelinhas pendurando, formando com as duas uma forma de "M". O tecido do carregador, sempre bem tensionado em todos os pontos em contato com o bebê e o adulto, tem que segurar o bebê desde atrás de um joelho até atrás do outro joelho. Desta forma se mantêm a posição natural do bebê, resultando também confortável para o adulto.



Esta posição não é possível mantê-la carregando o bebê ou criança face ao mundo. Além de forçar a coluna dele e carregar o peso inteiro do seu corpo nos seus genitais, cortando a circulação sanguínea nas virilhas, estamos sobre-expondo eles aos estímulos que vão chegando, sem lhes oferecer a possibilidade do aconchego do nosso corpo. Se quisermos que tenham uma maior visão do mundo, podemos carregá-los ao quadril ou às costas. Aí eles vêm mais coisas, e não perdem a referência do corpo da mãe. Não é a toa que em todas as culturas onde os carregadores de bebê são tradicionais, habituais e até ancestrais, os bebês são carregados sempre nesta posição física explicada, de "sapinho", e com o ventre do bebê em contato com o corpo do adulto (assim também se protegem os seus órgãos vitais), já seja carregado na frente, ao quadril ou às costas.
 


BENEFÍCIOS DE CARREGAR O SEU BEBÊ NO COLO

Bom, como vem sendo explicado, são muitos os benefícios tanto emocionais quanto físicos de carregar o seu bebê/criança no colo, o em um carregador de bebês ergonômico. Ao permanecer em contato físico com outra pessoa, eles harmonizam o seu ritmo respiratório, os batimentos cardíacos, a temperatura (ideal quando eles têm febre), o sistema imune e até os ciclos de sono com os da outra pessoa. É por isso que nas sociedades onde a cama compartilhada é o normal e habitual, não existe morte súbita.

Os bebês que são carregados na vertical, também ganham rapidamente habilidades no seu sistema de equilíbrio, pois a cada movimento da mãe quando ela caminha, se abaixa para pegar uma coisa, vira a um lado ou ao outro mudando de direção, caminha rápido ou devagar, se senta e se levanta do chão para brincar com os outros filhos, mexe os seus braços para bater um ovo... o bebê, carregado em um sling, tem que se esforçar por manter a posição que tem. Ele pratica com a orientação espacial ao mesmo tempo em que toma consciência do próprio corpo, sempre em contato com outro corpo. Com o fato de se manter na vertical, ele também vai fortalecendo a musculatura do pescoço e coluna, sem forçá-la, pois está devidamente segurada pelo carregador.

Enquanto à estimulação sensorial, eles recebem permanentemente estímulos quando são carregados. Os brinquedos são muito menos importantes do que um cuidador em contato físico com a criança. Estímulos apropriados, reais, da vida, não de um brinquedo “inteligente” e musical que, ao ritmo de umas luzes coloridas, ilumina a sua cadeirinha vibratória para acalmá-lo e estimulá-lo ao mesmo tempo.


O mundo lá fora já tem todos os estímulos de que um bebê precisa, pois está cheio de cores, cheiros, mudanças de temperatura, texturas, luz e escuro, barulhos do entorno... Sendo carregado ele está em contato permanente com tudo o que já conhecia desde o outro lado da barriga: a voz da mamãe, o seu balanceio ao caminhar, os batimentos do seu coração, o seu contato na pele. E ele adiciona a estas sensações todas as novas que o mundo vai lhe oferecendo, mas desde um lugar conhecido e que lhe faz sentir seguro. Quando um bebê está em estado tranquilo e alerta, em contato com a sua mãe, está também no estado ótimo para a observação e processamento de todo o que acontece ao seu redor.

O bebê que é carregado desenvolve habilidades sociais de forma saudável, pois ele participa da vida social da mãe desde um lugar prioritário. À mesma altura dela, vendo as mesmas coisas e com aceso às mesmas informações sensoriais. Ele está aí mesmo -e não lá embaixo num carrinho- quando a mãe conversa com outra pessoa, escolhe as frutas que vai comprar, se aproxima de uma árvore para sentir o cheiro das suas flores e quando estende roupas no varal. Ele participa junto dela da sua vida cotidiana, com tudo o que ela lhe oferece enquanto a estímulos e informação do entorno, e é assim, desde esse lugar seguro que é o corpo da mãe, que ele vai compreendendo o mundo e se adaptando a ele, de forma ativa e não passiva –estacionado num berço, cadeirinha ou carrinho, vendo todo de longe-, sentindo que ele, sim, também faz parte de tudo isso.

-Prohibida la reproducción total o parcial de este artículo sin el consentimento de la autora:

Elena de Regoyos
-Doula de puerpério e coach parental
-Consultora de slings e amamentação
Tlf (Br) +55 19-9391 4134 / Tlf (Esp) +34 696 08 25 21

 

4 comentarios:

  1. gratidão! Viva a permissão da VIDA na VIDA!

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  2. Gratidão pelo conhecimento compartilhado, me sínto cada día mais segura com a decisión de criar minha bebê pertinho de mim, ou em colos maternais da nossa comunidades.

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