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lunes, 27 de junio de 2011

Co-leito ou cama compartilhada. Por quê? O que é isso? Como fazê-lo de forma segura?

"Mãe... se eu tenho medo às noites e você e o papai não têm... Por quê é que eu tenho que dormir sozinho e vocês dormem juntos?"
Não sei vocês, mas quando eu leio coisas destas (bem mais embaixo esta o artigo sobre a publicação de um livro incentivando o compartilhamento da cama com os filhos) me invade uma satisfação e uma tranquilidade imensas. Porque eu posso ter cometido e cometo diariamente erros com os meus filhos, mas a hora de ir dormir é o nosso momento. Desde que sou mãe e, mais particularmente, desde que eu durmo com os meus filhos (teve que chegar o segundo para eu começar fazê-lo com os dois), essa hora é a mais especial do nosso dia.

Essa hora é quando estamos juntos, em contato físico e emocional, com a calma e quietude suficiente como para re-organizar idéias e sentimentos do dia todo. É quando, às vezes, nos pedimos desculpas de coração por coisas feias acontecidas durante o dia. É quando Paulo filosofa sobre a vida, me questiona sobre a morte, me conta acontecimentos especiais do seu dia e também me pergunta “onde é que mora a raiva”. É o momento em que, no escuro, nos damos a mão, nos aconchegamos os três.

Era o momento em que Adriano mamava gostoso antes de dormir até faz uns poucos meses. O momento em que um, ou outro, me pergunta se pode deitar encima de mim, como se fossemos um sanduíche. É o momento em que, quando eles se dormem, fico sentindo a sua respiração no meu pescoço, o cheiro gostoso do seu hálito. Ou se sou eu quem me durmo primeiro, Paulo me diz no dia seguinte que “você estava muito bonita dormindo à noite”.

Eu não posso dizer mais que “quem não o faça, isso que eles se perdem”. Eu tenho total certeza em que esse momento diário nosso será um dos que eu lembre com maior nostalgia quando meus pequenos sejam grandes. Sem dúvida alguma, é o nosso momento. O mais doce, o mais gostoso, o mais especial.

Como fazê-lo? Co-leito, co-habitação, mesma cama, duas camas unidas, berço em "side-car"...
Tem muitas formas de co-leitar (compartilhar cama), ou inclusive de co-habitar (compartilhar quarto). Eu já passei por muitas opções, e existem muitas outras. Na mesma cama, em duas camas juntas (de casal e de solteiro), com o berço unido à cama do casal, no mesmo quarto em camas separadas... Conheço até pessoas que tiraram as camas do quarto de casal e colocaram algo assim como um quarto acolchoado inteiro, ficando um espaço geral onde poder se esticar, dormir e co-leitar / co-habitar todos juntos (tinham dois filhos). Assim o bebê não pode nem cair no chão!!
Quando Adriano nasceu, ele dormia em um colchão colado ao nosso, do casal, bem juntinho à parede pelo outro lado para ele não cair, e ficando extamente à altura da nossa cama para evitar acidentes nas juntas de ambas camas. Assim passamos bastante tempo. Depois passamos a dividir cama ele e eu, enquanto o meu marido co-habitava com Paulo, que não queria ficar sozinho no quarto dele. Em épocas de férias na Espanha, eu com os meninos, co-habitávamos os três, mas não co-leitávamos, pois eram todas camas de 70cm em um mesmo quarto (ainda assim, muitos dias amanhecia com um ou o outro na cama).

Agora co-habitamos os quatro, co-leitando em duplas, eu com o meu marido, e Paulo com o Adriano. Os adultos na cama de casal, e os meninos em um colchão de casal no chão, ao nosso lado. Esse era o sonho da vida de Paulo, dormir os quatro juntos!! À hora de ir dormir, o meu marido ou eu (dependendo se eu vou dar aula à noite) vamos dormir com eles. Às vezes ficam na cama deles embaixo e o adulto na outra. Mas às vezes, também, eles sobem e ficamos que nem sanduíche os três juntinhos. Às vezes ficamos assim a noite inteira, outras eles descem depois de um pouquinho...

Tem que pensa que é um descontrole... Para nós é liberdade. Dormimos como queremos, como gostamos e como mais felizes somos. E se alguém fala o típico de “assim eles não vão se acostumar a dormir sozinhos”, eu respondo “é que eu não quero que eles sofram quando depois eles casem e tenham que dormir acompanhados”

A comentários absurdos, respostas ingeniosas. Pois até hoje não sei de nenhum adolescente são e feliz que queira dormir cada noite na cama dos seus pais. E coitada da mãe que o pretenda!! Não... definitivamente, e como acontece com tudo, são etapas madurativas, fases da evolução natural do ser humano. Eles sozinhos decidem sair da cama e quarto dos pais, quando adquirem a madurez suficiente. E, sim, isso acontece antes ou depois.

Adriano com 3 anos geralmente prefere dormir sozinho, mas sabe que, se ele quer subir na nossa cama, sempre será bem-vindo, e muitas noites ele precisa disso. Tem essa certeza, e sente-se seguro com ela. Paulo, com 5 anos, já prefere (ou precisa) mais o contato físico... talvez esse que ele não teve desde que nasceu, porque eu ainda não me permitia seguir os meus instintos. Ainda assim, dorme tranqüilo lá embaixo sabendo a mesma coisa, que em dias mais manhosos, pode subir com nós. É revelador que aquele que teve mais contato, mais compreensão, aleitamento até que ele decidiu parar (depois dos 3 anos)... é o que menos se importa com dormir sozinho e quem pede essa independência, também em outros aspectos da vida diária, naturalmente.
Co-leito seguro, medidas de segurança

Evidentemente, para dormir junto com um bebê de forma segura temos que preservar umas condições de segurança mínimas e básicas. Não são muitas, mas sim muito importantes... No mais... é só sentido comum. No final das contas, durante milhões de anos de evolução a humanidade não durmiu de outro jeito, e aqui estamos hoje, sobrevivendo a essas práticas. E ainda hoje na maior parte do mundo (no ocidental) é o mais comum. No Japão as crianças dormem com os seus pais até mais dos 3 anos, e quase sempre até os 5. Só na sociedade ocidental, e exclusivamente desde faz ao redor de um século, temos abandonado o co-leito, com não muito bons resultados para a nossa saúde mental e física, aliás.

Bom, estas são as dicas básicas para compartilhar cama com o(s) seu(s) filho(s):

1. A cama deve ser de colchão firme, nunca compartilhe cama com um bebê em um colchão de água, sofá ou cama com almofadas onde ele possa se encaixar. Se coloca um berço em "side-car" (sem um dos laterais, amarrado lateralmente à cama do casal), ou uma cama junto a do casal, os colchões de ambas superfícies devem ficar à mesma altura e bem juntos, sem posibilidade do bebê ficar atrapado entre ambos. Obviamente, pelo outro lado, deve haver uma parede ou barrera segura para evitar que o bebê caia ao chão.

2. Nenhum dos pais ou pessoa que compartilhe a cama com o bebê deve ser fumante (mesmo que não tenha fumado na hora de ir dormir ou no quarto, o hálito é perigoso), ter bebido alcohol ou usado drogas.

3. Pessoas obesas (mórbidos) não devem dormir junto com um bebê, porque os seus movimentos são limitados e o seu peso um possível risco para o bebê.

4. É necesário evitar fitas ou cordões nas roupas do bebê, da cama ou dos pais, para evitar riscos. Assim como amarrar o cabelo se este é longo.

5. Não é conveniente agasalhar demais o bebê, pois o calor corporal já faz muito. Evite um exceso de calor no quarto e cama onde vocês estão.

“As crianças deveriam dormir com os pais até os 5 anos”


Um dos mais conhecidos especialistas em saúde mental infantil do Reino Unido aconselha aos pais que não sigam anos de convencionalismos e permitem às crianças dormir na cama com eles até os 5 anos. Margot Sunderland, diretora de educação no Centro para a Saude Mental Infantil de Londres, diz que a prática do co-leito ou cama compartilhada faz mais provável que as crianças possam chegar a ser adultos sãos e tranqüilos.

Sunderland, autora de 20 livros, o explica em ‘The Science of Parenting’ (A Ciencia de Sermos Pais), que será publicado este mês.

Ela esta tão segura dos descobrimentos que aparecerão no seu novo livro, baseados em 800 estudos científicos, que até pediu que fosse entregue às enfermeiras de pediatria uma folha de dados para educar aos pais sobre o co-leito.

“Estes estudos deveriam ser disseminados amplamente aos pais”, disse Sunderland. “Não culpo aos que escrevem guias para pais – por que eles iriam saber de ciência? O noventa por cento é tão novo que agora eles precisam conhecê-lo. Não tem nenhum estudo que diga que seja bom deixar chorar ao seu filho”.

Ela diz que a prática comum no Reino Unido de ensinar às crianças a dormirem sozinhas desde que elas têm apenas umas semanas é perigosa, porque a separação dos pais incrementa o fluxo dos hormônios do stress, tal como o cortisol.

Os seus descobrimentos estão baseados no avanço da compreensão científica durante os últimos 20 anos sobre como é o desenvolvimento do cérebro das crianças, e em estudos nos quais usam ressonâncias para analisar como elas reagem em circunstancias particulares.

Por exemplo, um estudo neurológico de faz três anos mostrou que uma criança que é separada de um dos seus pais experimentava atividade similar à uma que estivesse tendo dor física.

Sunderland também acredita que a prática atual esta baseada em atitudes sociais que deveriam ser abandonadas. “Existe um tabu em este país sobre que as crianças durmam com os seus pais”, ela disse. “O que eu fiz com este livro é apresentar a ciência. Estudos do mundo inteiro mostram que o co-leito até os cinco anos é um investimento para a criança. Eles podem ter ansiedade da separação até a idade dos cinco anos ou mais, o qual pode danificar eles toda a vida pela frente. Isso fica acalmado graças ao co-leito".

Os sintomas também podem ser físicos. Sunderland cita um estudo no qual aproximadamente 70% de mulheres que não tinham sido atendidas quando elas choravam sendo crianças, desenvolvem dificuldades digestivas na idade adulta.

Os métodos que defendem o contrário

O livro de Sunderland coloca ela bem longe dos livros mais lidos no Reino Unido sobre como sermos pais, tais como o da Gina Ford, que tem milhares de seguidores. Ford recomenda que sejam estabelecidas rotinas de sonho para bebês desde bem pequenos, já no berço “longe do resto da casa” e ensinar aos bebês a dormirem “sem a ajuda dos adultos”.

No livro dela, “The Complete Sleep Guide for Contented Babies and Toddlers”, escreve que os pais precisam de tempo para si mesmos. “O co-leito... geralmente acaba com dos pais dormindo em quartos separados” e mães exaustas, uma situação que “põe uma pressão imensa na família inteira”.

Annette Moutford, diretora da organização para país “Family Links”, confirma que a norma era que as crianças do Reino Unido dormissem em berços e camas, geralmente em quartos separados, desde a mais terna idade. “Os pais precisam do seu próprio espaço”, ela disse. “Definitivamente existem benefícios em animar às crianças a ter sua própria rotina de sonho no seu próprio espaço”.

Por qué não seguir essas dicas?

Sunderland diz que foi comprovado que o fato de pôr às crianças nas suas próprias camas quando elas só têm umas semanas de idade, inclusive se elas choram durante a noite, incrementa o fluxo de cortisol (hormônio do stress).

Os estudos com crianças de menos de cinco anos mostram que para mais do 90%, o cortisol aumenta quando eles vão à escolinha ou berçário. Para o 75% o cortisol desce quando eles voltam a casa.

O professor Jaak Panksepp, neurocientífico na Washington State University, que escreveu o prólogo do livro, disse que os argumentos de Sunderland são “uma estória coerente que é perfeitamente consistente com a neurociência. Uma sociedade sábia deveria seguir os conselhos dela”.

Sunderlans diz que pôr às crianças para dormirem sozinhas é um fenômeno peculiar da sociedade ocidental que pode aumentar os riscos e possibilidades do Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL). Isto pode ser devido a que a criança se desliga do efeito calmante para a respiração e coração que significa estar deitado ao lado da mãe dele, gerando sincronia nos ritmos de ambos.

“No Reino Unido 500 crianças morrem cada ano de SMSL”, escreve Sunderlans. “Na China, onde (o co-leito) é normal, o SMSL é tão raro que não tem nem nome”.

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Mais informação em MamaÉ:

-O sono dos nossos filhos e as conseqüências de deixá-los chorar

-O puerpério e as falsas expectativas da mulher grávida

5 comentarios:

  1. Elena, umas dúvidas:
    - Qdo vc diz 'É necesário evitar fitas ou cordões nas roupas do bebê, da cama ou dos pais, para evitar riscos. Assim como amarrar o cabelo se este é longo.' quer dizer que devo prender o cabelo ou evitar prender o cabelo? Devo amarrar para não enroscar, certo?
    - Não tenho como colocar outro colchão ou o berço da Ju no meu quarto. Cheguei algumas vezes a dormir em um colchão do lado do berço, no quarto dela, mas não é a mesma coisa. Normalmente ela dorme no meio de nós na cama de casal. Quais os riscos? Ela é pequena demais para isso?
    - Você tem alguma dica para diminuir nossa tensão ao dormir com ela na cama e assim diminuir as nossas dores nas costas?
    Estou com medo de acabar tendo que colocá-la no berço. Não quero fazer isso...
    Bjos!!!

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  2. Pois é, o cabelo é mais para pessoas com cabelão, para evitar que enrosque no pescoço do bebê...

    Enquanto ao colchão ou berço, claro que não é necessário pôr um ao lado do seu, é só uma opção mais que outras pessoas escolhem para ter mais espaço, e as vezes porque têm crianças que acordam menos assim. Cada família encontra a sua forma, não tem uma melhor que a outra.

    Mas, claro, o mais habitual e perfeitamente saudável é dormir todos no mesmo colchão, com o bebê no meio dos dois ou a um lado, colocando alguma coisa, claro, para ele não cair. Tanto faz.

    Você dorme com ela desde bem pequena, e vocês já tem comprovado que tanto você quanto o seu marido são sensíveis à menina, né? Ninguém se joga encima dela, e um ou outro acordam quando ela acorda, faz barulhinhos, se mexe... Pelo tanto, não sendo vocês fumantes, nem obesos, etc... esta tudo OK.

    Não tem risco nenhum. Mais pelo contrário, vocês evitam riscos porque estão tão perto dela que se ela sofresse febre, um pesadelo (mais pela frente ainda) ou até uma apnea... vocês o perceberiam imediatamente, né? Para mim é muito mais arriscado ter o bebê em outro quarto e não saber de todas essas coisas durante as muitas horas que dura a noite!!

    Não têm idade para começar a dormir com os nossos filhos, de fato, quanto antes, melhor. Desde o primeiro dia é o mais indicado, pois é quando eles mais precissam desse contato permanente!! Uma mãe sã esta perfeitamente alerta e (cumprindo os requisitos explicados) nunca sufocaria a sua cria!!

    A dor de costas... é importante diminuir, pois é. Não saberia te dizer... É por falta de espaço ou por tensão sua por medo de "amasar" a menina? Se é por isso ultimo... relaxa, como eu disse, vocês já tem comprovado que isso não acontece.

    Derrepente, para aliviar algun dia, vocês poderiam provar dormir um dos dois (melhor a mãe, eu acho, agora que ela ainda que é pequena e precisa mamar durante a noite) com a menina na cama, e o outro ir dormir no outro quarto no colchão, para desfrutarem de mais espaço... Se alivia um pouco, não vejo por que não fazê-lo esporádicamente, ou com a frequência que vocês achem necessária. No final das contas... isso é uma fase das nossas vidas só.

    Colocá-la no berço? Só se você acha que é o melhor, em esse caso, sera o melhor!! Você não tem que fazer nada que não queira fazer.

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  3. Fala-se em a criança dormir até os 5 anos na cama dos pais.
    E a vida sexual do casal?E os momentos q são necessarios p que o casal permaneça bem e feliz?

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    1. Hola Rose, obrigada pelo seu comentário.
      Eu gostaria de esclarecer que não estou falando de nenhuma idade fixa, nem para abaixo nem para acima, quer dizer, que eu concordo com os pais dormirem com os seus filhos sempre que eles quiserem, se é que eles querem.

      Isso inclui desde o primeiro dia após o nascimento, até a idade que tanto filho como pai/mãe queiram.

      Otro assunto é a vida sexual dos pais... Cada casal é cada casal, e tem os seus costumes o a sua elasticidade para adaptá-los a situações novas com um pouco de imaginação. Só na cama? Só na cama do casal?... Não posso opinar sobre isso, como eu disse, cada qual é cada qual.

      Mas realmente você considera que esses são os únicos momentos que "são necessarios para que o casal permaneça bem feliz", como você diz...? Acredito que não!!

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    2. Concordo com a Rose. Isso acaba com a vida de casal, acho que devem existir limites que as crianças devem ser ensinadas a respeitar. A hora em que as crianças estão dormindo e o casal está finalmente a sós, pode conversar, namorar, fazer o que quiser é, ou deveria ser, sagrada. Sem laços fortes entre o casal, enfraquece-se a família. Claro que se a criança estiver doente, ou tiver um pesadelo, ou algo assim, ela deve ter permissão para chamar os pais. Mas na maior parte das vezes, acho que os pais devem ter sua liberdade e seu espaço de casal.

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